domingo, 29 de março de 2009

Então me diz, onde quero chegar com todas essas frases e acordes que não passam de maiores?

Andrei Tarkovsky

"A arte não raciocina em termos lógicos, nem formula uma
lógica do comportamento; ela expressa o seu próprio postulado
de fé. Se, na ciência, é possível confirmar a veracidade
dos argumentos e comprová-los logicamente aos que a eles
se opõem, na arte é impossível convencer qualquer pessoa
de que você está certo, caso as imagens criadas a tenham
deixado indiferente e não tenham sido capazes de convencê-la
a aceitar uma verdade recém-descoberta sobre o mundo e
o homem, se, na verdade, a pessoa ficou apenas entediada
ao deparar-se com a obra."

E ontem fomos para a praça pôr-do-sol, como de praxe. Saindo das linhas, dessa vez decidi levar lápis de cor, giz de cera, folhas em branco e um caderno em branco para criar uma nova possibilidade de entretenimento. Surpreso, me vejo sentado ao lado das folhas brancas ainda em branco enquanto vamos traçando um desenho em conjunto(como de praxe) em um tronco de árvore cortado. Desenho livre, por assim dizer.

Praça Pôr-do-Sol(Gustavo Langsh) 28/03/2009

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"Antes de abordar os problemas específicos da natureza da
arte cinematográfica, creio ser importante definir o meu modo
de entender o objetivo fundamental da arte como tal. Por
que a arte existe? Quem precisa dela? Na verdade, alguém
precisa dela? Estas são questões colocadas não só pelo poeta,
mas também por qualquer pessoa que aprecie arte —
ou, naquela expressão corrente, por demais sintomática da
relação entre a arte e seu público do século XX — o "consumidor".
Muitos fazem essa pergunta a si próprios, e qualquer pessoa
ligada à arte costuma dar a sua resposta pessoal. Alexander
Block9 disse que "do caos, o poeta cria harmonia".
... Puchkin acreditava que o poeta tem o dom da profecia.
... Todo artista é regido por suas próprias leis, mas estas
não são, em absoluto, obrigatórias para as demais pessoas.
De qualquer modo, fica perfeitamente claro que o objetivo
de toda arte — a menos, por certo, que ela seja dirigida
ao "consumidor", como se fosse uma mercadoria — é explicar
ao próprio artista, e aos que o cercam, para que vive
o homem, e qual é o significado da sua existência. Explicar
às pessoas a que se deve sua aparição neste planeta, ou, se
não for possível explicar, ao menos propor a questão.
Para partirmos da mais geral das considerações, é preciso
dizer que o papel indiscutivelmente funcional da arte
encontra-se na idéia do conhecimento, onde o efeito é expressado
como choque, como catarse."

Tarkovsky
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A dualidade, apesar da afirmação estúpida que vou fazer, é uma faca de dois gumes.
Uma mesma oração, alheia à entonação e o contexto, ainda assim pode acabar insinuando coisas que acabam por ser percebidas somente no interior de que a ouve. E é aí que reside o problema. Antes, as palavras só confundiam quando se partia do próprio orador. Agora, meus ouvidos me traem.

Um comentário:

  1. não falei que tu ia gostar? haha

    tarkovsky é o meu cineásta preferido, não só pelos filmes, mas pelas vida, pela idéias e por me fazer acreiditar na fé (independente de religiões - vide "stalker").

    juro que uma lágrima rolou quando lí esse livro. tudo que eu pensava sobre música, aplicado à arte em geral.

    eu sempre digo que quando os alienígenas vierem à terra, podem até tirar onda e rir dos escritos de eisntein, freud, newton, mas nunca, JAMAIS, poderão zombar do cinema do tarkovsky e do bergman.

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